Esta nota apresenta informações epidemiológicas relacionadas à COVID-19 e também sobre o distanciamento social da cidade de Gravatá, Pernambuco. A cidade teve seu primeiro caso de COVID-19 confirmado no dia 16 de abril, e o primeiro óbito pela doença confirmado no dia 25 de abril. Até o dia 03 de agosto, a cidade apresentava um total de 439 casos confirmados e 49 óbitos por COVID-19.
Dados e modelo
Os dados epidemiológicos (número de casos e óbitos) da COVID-19 utilizados nesta nota foram coletados do site oficial da prefeitura de Gravatá, os quais são atualizados diariamente. Já os dados de distanciamento social foram fornecidos pela InLoco, uma startup de tecnologia que tem acompanhado a movimentação de cerca de 60 milhões de brasileiros por meio de localização de celulares. A informação é proveniente de aplicativos parceiros instalados voluntariamente pelos usuários, que podem ou não permitir o envio de suas informações. Para acompanhar a evolução do nível de transmissão da COVID-19 em Gravatá, foi estimado o número de reprodução ao longo do tempo (denominado R(t)).
Gravatá e os decretos municipais
Gravatá está localizada a 84km da capital Recife, a uma altitude de 447 metros. A cidade, que tem população de 84.074 habitantes, é famosa por suas atrações turísticas, que atraem pessoas de outras cidades pernambucanas e estados. Em 2019, Gravatá recebeu destaque no Mapa do Turismo Brasileiro, no qual consta que o município ocupa lugar de destaque entre os melhores destinos turísticos do país.
No dia 16 de março, a prefeitura de Gravatá regulamentou, através do decreto 015/2020, medidas temporárias para enfrentamento da emergência de saúde pública decorrente da COVID-19, suspendendo aulas regulares da rede pública municipal e particular, bem como a realização de eventos com público superior a cem pessoas, dentre outras.
Após o decreto 015/2020, diversos outros foram publicados com o objetivo de intensificar as medidas de distanciamento social em Gravatá, por exemplo: o decreto 016/2020 restringiu eventos com mais de 50 pessoas, e suspendeu as atividades dos centros de artesanato, museus, parques e academias de ginástica; o decreto 017/2020 suspendeu as atividades de comercialização em feiras livres; o decreto 018/2020 suspendeu as atividades de atendimento ao público de bancos e de estabelecimentos de serviços financeiros.
No dia 26 de março, a prefeitura de Gravatá decretou estado de calamidade pública em virtude da situação de emergência de saúde pública. O decreto 035/2020, de 30 de abril, estabeleceu o uso de máscara pela população em geral.
A partir do dia 18 de maio, a prefeitura de Gravatá, através do decreto 042/2020, permitiu o retorno das atividades de comércio de produtos essenciais em horário restrito, das 7:00 às 15:00 e das feiras livres das 5:00 às 17:00.
Em decorrência das festividades de São João, o decreto 049/2020 proibiu acender fogueiras em locais públicos e privados, e proibiu a queima de fogos de artifícios em todo território municipal.
Mais recentemente, o decreto 059/2020 autorizou a retomada de diversas outras atividades comerciais a partir do dia 14 de julho, e definiram um protocolo de retomada a ser cumprido pelo estabelecimentos e o decreto 060/2020 autorizou, a partir do dia 03 de agosto, a reabertura de restaurantes e escritórios (com 50% da capacidade) e academias (dentro dos padrões da vigilância sanitária) e o retorno das atividades turísticas, tais como o Mercado Público Municipal, centros de artesanato, museus e parques.
Gravatá e os números da COVID-19
A Figura 1 apresenta as informações epidemiológicas referentes a COVID-19 na cidade de Gravatá, além de informações sobre distanciamento social. A Figura 1(a) representa os números de casos confirmados de COVID-19 por dia e sua respectiva tendência; a Figura 1(b) refere-se a quantidade de óbitos por COVID-19 confirmados por dia e a tendência apresentada; a Figura 1(c) apresenta a estimativa do número de reprodução (R(t)); e por fim, a Figura 1(d) apresenta a evolução do indicador de isolamento social da InLoco para esse município e em comparação com a média móvel de 14 dias do estado de Pernambuco. Os dados são diários e se referem ao período de 16 de abril (dia do primeiro caso confirmado em Gravatá) a 03 de agosto.
Figura 1. Curvas referentes à quantidade diária de casos confirmados e óbitos por COVID-19, estimativa do número de reprodução (R(t)) e distanciamento social da cidade de Gravatá, de 16 de abril (dia do primeiro caso confirmado em Gravatá) a 03 de agosto.
A curva de casos confirmados apresenta um pico no dia 03 de agosto referente ao resultado de uma ação da Secretaria Municipal de Saúde de testagem em massa. Foram realizados 921 testes rápidos em profissionais da Secretaria de Saúde, Assistência Social e também nos idosos do Abrigo dos Velhinhos e no abrigo de Mandacaru. Neste dia, foram confirmados 34 novos casos de COVID-19 na cidade. A curva de estimativa do número de reprodução de Gravatá oscila bastante, mas na maior parte do período analisado o R(t) permanece acima de 1, caracterizando ainda um cenário de disseminação da doença.
Interessante notar que o índice de distanciamento social da InLoco aponta valores sempre abaixo de 45%, e a partir de meados de maio, fica abaixo da média do estado de Pernambuco. Ressalta-se uma maior concentração de turistas na cidade para as festividades do São João no mês de junho e para as férias no mês de julho, período no qual a cidade apresentou os piores índices de distanciamento social, e isso pode ter significado também maior movimentação dos residentes daquela cidade.
Essas as estimativas apresentam uma grande variabilidade no tempo pois capturam diferentes efeitos, como mobilidade diferenciada nos finais de semanas, maior presença de turistas na cidade, testes clínicos em massa, entre outros. Assim, é recomendado que, para relaxar as medidas de distanciamento social, observe-se um número de reprodução (R(t)) menor que 1 por algumas semanas seguidas.
Considerações finais
É importante salientar uma limitação existente nesta nota sobre a questão da acurácia dos dados epidemiológicos analisados. Apesar de utilizarmos dados oficiais da prefeitura de Gravatá, há outras fontes de dados abertos que refletem números divergentes dos apresentados aqui. Isso se deve a diversos fatores como número de testes realizados, atraso nas atualizações diárias dos boletins, dados faltantes, diferença entre data de óbito e data de notificação, entre outros.
Vale ressaltar ainda que as curvas de contaminados e óbitos por COVID-19 na cidade de Gravatá são crescentes e o R(t) está acima de 1, mas desde o dia 03 de agosto, atividades que costumam reunir muitas pessoas em locais fechados, tais como restaurantes e academias, foram retomadas, resultando assim numa maior circulação de pessoas na cidade (diminuindo o índice de distanciamento social). Assim, é importante continuar monitorando os indicativos epidemiológicos e os indicadores de isolamento social para monitorar a disseminação da COVID-19 no município de Gravatá.
Guto Leoni Santos é doutorando em Ciência da Computação da Universidade Federal de Pernambuco (CIn/UFPE), mestre em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Pernambuco (CIn/UFPE), e graduado em Sistemas de Informação pela Universidade de Pernambuco (UPE).
Patricia Takako Endo é professora adjunta da Universidade de Pernambuco (UPE) e membro permanente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia da Computação (PPGEC/UPE).
Ivanovitch Silva é professor adjunto do Instituto Metrópole Digital da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (IMD/UFRN) e vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e de Computação (PPgEEC/UFRN).
Luciana Lima é professora adjunta do Departamento de Demografia e Ciências Atuariais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (DDCA/UFRN) e vice-coordenadora do Programa de Pós-graduação em Demografia (PPgDEM/UFRN).
Marcel Ribeiro-Dantas é pesquisador no Institut Curie (UMR168), Mestre em Bioinformática (UFRN) e doutorando na L’école doctorale informatique, télécommunications et électronique (EDITE) da Sorbonne Université (Paris).
Gisliany Alves é graduada em Ciências e Tecnologia e em Engenharia de Computação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e mestre em Engenharia Elétrica e de Computação (UFRN).